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terça-feira, 11 de maio de 2010

Discurso da Tante Loli no nosso 1º Encontro da Família Meinicke em Itajaí em 29 Jan 2000 - 1ª parte

Itajaí, 29/-1/2000

Meus queridos parentes!

Sejam todos bem-vindos neste dia tão festivo e de grande importância para nós: netos, bisnetos e tataranetos, que juntamente com suas famílias enfrentaram o calor e a distância, pois vieram de Porto Alegre, Ponta Grossa, Matador, Pomerode, Rio do Sul, Timbó, Camboriú, Itajaí e de Bremerhaven e Wuppertal, na Alemanha, para tomar parte nesta reunião familiar. Muito obrigada a vocês todos! Cumprimento especial ano nosso querido Max Meinicke, de Matador, que no dia 3 de março completará 88 anos de idade e é o mais idoso entre nós.

Hoje festejamos e relembramos os nossos antepassados, o casal Paul Eduard Max Meinicke e Auguste Pauline Meinicke, nascida Mosinski. É o centenário da imigração deles para o Brasil. Até no Jornal General-Anzeiger de Bonn-Alemanha, do dia 24-25 de dezembro de 1999 saiu a notícia, falando de nosso encontro hoje aqui em Itajaí. A nossa parente Luciana Schlup, de Porto Alegre, mandou uma linda reportagem ao jornal, devido a uma visita que fez a Alemanha no ano passado, falando também dos Meinicke. Obrigada Luciana.

Opapa Paul Eduard Max Meinicke nasceu no dia 13/03/1870, em Göllnitz, na Saxônia-Alemanha. Ele foi o segundo filho de Karl Friedrich Hugo Meinicke (nasceu em 1845) e Ida Theodore, nascida Heynke (nasceu em 1843). A primeira criança do casal foi uma menina: Johanna Ida Elise, que nasceu em 1869. O pai Hugo Meinicke foi professor, seu diploma é do ano de 1868, e lecionou em Dobitschen-Saxônia. Por decreto do Duque de Saxônia, Jülich Kleve und Berg Engern und Westphalen, etc...foi nomeado “Kantor” (organista e dirigente do coral da igreja) no ano de 1896. Pouco sabemos sobre a mãe do Opapa. Ela é nascida Heynke e nesta família há um conhecido compositor. Ela cantava e tocava piano muito bem. Minha mãe, Lucie Meinicke, quando estudou, 1914-1919, na Alemanha, a visitou. Quando ela tocava, dizia sempre: “Lucie, abra as janelas para que os vizinhos possam ouvir tudo”. Antes de dormir ela cuidava da pele, principalmente do rosto, onde aplicava uma máscara de creme caseiro. A minha mãe, como era jovem, ficou impressionada com o agir da avó.

Infelizmente nos tempos passados os nossos avós falavam pouco da vida deles e nós ainda crianças, também, pouco perguntávamos. Pois hoje eu vou dar um conselho a vocês jovens: falem com seus pais e avós a respeito do passado, pois o passado faz parte de nossa vida. Sem ele não estaríamos aqui. E como disse um conhecido brasileiro, se não me engano foi Rui Barbosa, “quem não lembra, respeita, honra e ama seus antepassados, também, não será um bom brasileiro”.

Opapa Paul Eduard Max Meinicke também foi professor, ele saiu de casa (talvez porque a irmã Elise era o xodó da mãe, em muitas famílias acontece isto) e mudou-se para a cidade de Dresden, capital da Saxônia. Lá conheceu a Auguste Pauline, nascida no dia 23 de julho de 1867, em Kobylagora (tradução: Morro da égua) na Polônia. Há um livro na mesa que consegui com amigos poloneses, o casal Kleina lá em Wuppertal. Mostra a igreja onde a Omi (como nós a chamávamos) foi batizada e confirmada. Os pais dela eram Adalbert Wojciech Mosinski (nascido em 1822) e Charlotte, nascida Leja.

O pai, Adalbert Mosinski, tinha um moinho de trigo movido por água, que vinha de um grande lago “Mühlenteich”, que, também pertencia a ele. Eles tinham casa, terras, pastos, floresta e, também, empregados. Na aldeia de Kobylagora eram respeitados e ricos. A Omi tinha 3 irmãos: Auguste – que conheci em Bielefeld, Emilie- que conheci em Berlim e Frieda, que conheci em Buckow, onde ela na última guerra foi morta em plena rua, fugindo durante um combate. Havia ainda o irmão Fritz, que emigrou para a América do Norte.

A Omi muitas vezes me contava sobre as tradições lá na casa deles. Existe uma carta que ela escreveu de Timbó, no dia 15 de março de 1948 para a irmã Emilie, que morava em Berlim. Tante Herta (nora de Emilie) me deu esta carta e vou traduzir uma parte desta carta, já histórica. Assim a Omi:”Quero descrever a nossa festa de Natal na casa paterna. Na noite de natal só havia sopa (Hanfsuppe) e nhoque com sementes de papoula.. Em cima havia uma grande sala e bem no centro uma mesa bem grande. No meio dela uma grande árvore de natal – Tannenbaum – pinheiro europeu. O pai dizia a prédica e lia no evangelho e nós todos, também os empregados, cantávamos hinos religiosos. Debaixo da mesa havia feno e palha. Assim que aparecia a primeira estrela no céu, ninguém mais trabalhava, nem mesmo lavava louça. Após o jantar agradecíamos a Deus. O pai, então dizia: “Nós todos fortalecemos o corpo e a alma, agora vamos pensar também no nosso querido gado”. Os empregados e empregadas levavam o feno no estábulo para todos os animais. O moleiro e os ajudantes dele pegavam a palha, iam ao pomar e em cada árvore amarravam uma faixa de palha e ninguém podia tocar nelas até que apodreciam e caíam.

Em Pentecostes faziam um grande caramanchão enfeitado com Birke, uma árvore. No grande portão todo enfeitado com o primeiro verde e girlandas. Dentro de casa tudo enfeitado com verde e flores “calmus”, que cresciam perto do nosso lago e tinham um perfume maravilhoso. O assoalho nas salas era esfregado com sabão e depois de limpo e seco espalhado com areia fina e branca. Depois chegavam moças e moços com pequenas árvores “Birken”, todas enfeitadas, e cantavam lindas cantigas. Terminado, eles recebiam de nós presentes. Na Páscoa vinham moços com bonecos dançantes e cantavam canções sobre o sofrimento de Jesus Cristo. Depois recebiam presentes. Nós crianças, todas orgulhosas, porque sempre vinham muitos na nossa casa.

No Carnaval minha mãe fazia uma grande gamela cheia de massa para sonhos, que depois fritava em óleo de linhaça. Sempre vinham grandes homens, o da frente montado em um cavalo branco de pau. Nós crianças sempre tínhamos medo. Eles pareciam feios.

Na Páscoa o pai sempre tinha de ficar mais tempo na cama. Aí chegavam os trabalhadores trazendo água benta, que despejavam sobre as mãos do pai falando santos versos. Todos os empregados eram católicos, nós evangélicos. Quando eles iam para a Santa Ceia, os homens primeiro iam para o pai e as mulheres para a mãe, se ajoelhavam e abraçavam os joelhos deles pedindo perdão. Meu pai dizia para todos um verso santo. Nós crianças sentados no banco perto do fogão que aquecia a sala com as mãos dobradas o tempo todo escutando com devoção.

Quando era tempo da colheita de trigo nossos trabalhadores iam cantando hinos religiosos até o campo da lavoura. Feita depois uma coroa de espigas de trigo, “Erntekranz”, que ficava pendurada o ano inteiro na sala.

Nossos pais eram bonitos. O pai alto, cabelo louro e um porte elegante. Uma barba igual ao do imperador Wilhelm (Guilherme da Alemanha). Nossa primeira mãe tinha cabelos pretos e olhos azuis. Todos a chamavam “Die schöne Mühlerin”, a bonita moleira. Ela não era muito grande, aliás, eu sou a menor de todos...”

Assim escreveu a Omi, contando ainda que o pai dela no cemitério escolheu um lugar, pôs uma cerca em volta e no meio ergueu uma cruz. Pintou tudo de azul e branco e na cruz colocou um Cristo de prata. É ali que ele está enterrado.

Pela carta sabemos agora algo da casa paterna da Omi.

Na carta ainda escreve que parece que somos descendentes de um Conde Mosinski, polonês. O rei da Saxônia, “August, der Starke”, ou “Augusto, o Forte”, que também foi rei da Saxônia era amigo deste Conde e levou o mesmo para Dresden, onde havia um Castelo Mosinski (destruído pela Segunda Guerra e cujas ruínas foram demolidas pelo regime da DDR). A Rua Mosinski, em Dresden, ainda existe. Eu a vi quando estive em Dresden alguns anos atrás.

A mãe da Omi faleceu e o pai casou outra vez e com a segunda esposa ainda teve dois filhos: Rosália e Thomas. A madrasta dava mais amor e atenção aos próprios filhos e assim a herança que era grande foi toda para os dois filhos e os outros cinco ficaram sem nada. Omi saiu cedo de casa e foi para a cidade Görlitz e depois para Dresden, onde trabalhou na famosa Confeitaria Siegel que era “Hoftrateur Siegel”, porque tinha do rei Augusto um Diploma por ser a única Confeitaria de Dresden a fornecer tudo para o palácio do rei. Assim a Omi conheceu grande parte da corte real. Sabia dobrar artisticamente os guardanapos, pois ela arrumava as mesas quando as Altezas iam à Confeitaria. Na minha visita a Dresden procurei a Confeitaria, mas ela foi destruída pela Segunda Guerra.

A 2ª parte deste discurso será colocado oportunamente neste Blog


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