Itajaí, 29/-1/2000
Meus queridos parentes!
Sejam todos bem-vindos neste dia tão festivo e de grande importância para nós: netos, bisnetos e tataranetos, que juntamente com suas famílias enfrentaram o calor e a distância, pois vieram de Porto Alegre, Ponta Grossa, Matador, Pomerode, Rio do Sul, Timbó, Camboriú, Itajaí e de Bremerhaven e Wuppertal, na Alemanha, para tomar parte nesta reunião familiar. Muito obrigada a vocês todos! Cumprimento especial ano nosso querido Max Meinicke, de Matador, que no dia 3 de março completará 88 anos de idade e é o mais idoso entre nós.
Hoje festejamos e relembramos os nossos antepassados, o casal Paul Eduard Max Meinicke e Auguste Pauline Meinicke, nascida Mosinski. É o centenário da imigração deles para o Brasil. Até no Jornal General-Anzeiger de Bonn-Alemanha, do dia 24-25 de dezembro de 1999 saiu a notícia, falando de nosso encontro hoje aqui
Opapa Paul Eduard Max Meinicke nasceu no dia 13/03/1870, em Göllnitz, na Saxônia-Alemanha. Ele foi o segundo filho de Karl Friedrich Hugo Meinicke (nasceu em 1845) e Ida Theodore, nascida Heynke (nasceu em 1843). A primeira criança do casal foi uma menina: Johanna Ida Elise, que nasceu em 1869. O pai Hugo Meinicke foi professor, seu diploma é do ano de 1868, e lecionou
Infelizmente nos tempos passados os nossos avós falavam pouco da vida deles e nós ainda crianças, também, pouco perguntávamos. Pois hoje eu vou dar um conselho a vocês jovens: falem com seus pais e avós a respeito do passado, pois o passado faz parte de nossa vida. Sem ele não estaríamos aqui. E como disse um conhecido brasileiro, se não me engano foi Rui Barbosa, “quem não lembra, respeita, honra e ama seus antepassados, também, não será um bom brasileiro”.
Opapa Paul Eduard Max Meinicke também foi professor, ele saiu de casa (talvez porque a irmã Elise era o xodó da mãe, em muitas famílias acontece isto) e mudou-se para a cidade de Dresden, capital da Saxônia. Lá conheceu a Auguste Pauline, nascida no dia 23 de julho de 1867, em Kobylagora (tradução: Morro da égua) na Polônia. Há um livro na mesa que consegui com amigos poloneses, o casal Kleina lá
O pai, Adalbert Mosinski, tinha um moinho de trigo movido por água, que vinha de um grande lago “Mühlenteich”, que, também pertencia a ele. Eles tinham casa, terras, pastos, floresta e, também, empregados. Na aldeia de Kobylagora eram respeitados e ricos. A Omi tinha 3 irmãos: Auguste – que conheci em Bielefeld, Emilie- que conheci em Berlim e Frieda, que conheci em Buckow, onde ela na última guerra foi morta em plena rua, fugindo durante um combate. Havia ainda o irmão Fritz, que emigrou para a América do Norte.
A Omi muitas vezes me contava sobre as tradições lá na casa deles. Existe uma carta que ela escreveu de Timbó, no dia 15 de março de 1948 para a irmã Emilie, que morava
Em Pentecostes faziam um grande caramanchão enfeitado com Birke, uma árvore. No grande portão todo enfeitado com o primeiro verde e girlandas. Dentro de casa tudo enfeitado com verde e flores “calmus”, que cresciam perto do nosso lago e tinham um perfume maravilhoso. O assoalho nas salas era esfregado com sabão e depois de limpo e seco espalhado com areia fina e branca. Depois chegavam moças e moços com pequenas árvores “Birken”, todas enfeitadas, e cantavam lindas cantigas. Terminado, eles recebiam de nós presentes. Na Páscoa vinham moços com bonecos dançantes e cantavam canções sobre o sofrimento de Jesus Cristo. Depois recebiam presentes. Nós crianças, todas orgulhosas, porque sempre vinham muitos na nossa casa.
No Carnaval minha mãe fazia uma grande gamela cheia de massa para sonhos, que depois fritava em óleo de linhaça. Sempre vinham grandes homens, o da frente montado em um cavalo branco de pau. Nós crianças sempre tínhamos medo. Eles pareciam feios.
Na Páscoa o pai sempre tinha de ficar mais tempo na cama. Aí chegavam os trabalhadores trazendo água benta, que despejavam sobre as mãos do pai falando santos versos. Todos os empregados eram católicos, nós evangélicos. Quando eles iam para a Santa Ceia, os homens primeiro iam para o pai e as mulheres para a mãe, se ajoelhavam e abraçavam os joelhos deles pedindo perdão. Meu pai dizia para todos um verso santo. Nós crianças sentados no banco perto do fogão que aquecia a sala com as mãos dobradas o tempo todo escutando com devoção.
Quando era tempo da colheita de trigo nossos trabalhadores iam cantando hinos religiosos até o campo da lavoura. Feita depois uma coroa de espigas de trigo, “Erntekranz”, que ficava pendurada o ano inteiro na sala.
Nossos pais eram bonitos. O pai alto, cabelo louro e um porte elegante. Uma barba igual ao do imperador Wilhelm (Guilherme da Alemanha). Nossa primeira mãe tinha cabelos pretos e olhos azuis. Todos a chamavam “Die schöne Mühlerin”, a bonita moleira. Ela não era muito grande, aliás, eu sou a menor de todos...”
Assim escreveu a Omi, contando ainda que o pai dela no cemitério escolheu um lugar, pôs uma cerca em volta e no meio ergueu uma cruz. Pintou tudo de azul e branco e na cruz colocou um Cristo de prata. É ali que ele está enterrado.
Pela carta sabemos agora algo da casa paterna da Omi.
Na carta ainda escreve que parece que somos descendentes de um Conde Mosinski, polonês. O rei da Saxônia, “August, der Starke”, ou “Augusto, o Forte”, que também foi rei da Saxônia era amigo deste Conde e levou o mesmo para Dresden, onde havia um Castelo Mosinski (destruído pela Segunda Guerra e cujas ruínas foram demolidas pelo regime da DDR). A Rua Mosinski, em Dresden, ainda existe. Eu a vi quando estive em Dresden alguns anos atrás.
A mãe da Omi faleceu e o pai casou outra vez e com a segunda esposa ainda teve dois filhos: Rosália e Thomas. A madrasta dava mais amor e atenção aos próprios filhos e assim a herança que era grande foi toda para os dois filhos e os outros cinco ficaram sem nada. Omi saiu cedo de casa e foi para a cidade Görlitz e depois para Dresden, onde trabalhou na famosa Confeitaria Siegel que era “Hoftrateur Siegel”, porque tinha do rei Augusto um Diploma por ser a única Confeitaria de Dresden a fornecer tudo para o palácio do rei. Assim a Omi conheceu grande parte da corte real. Sabia dobrar artisticamente os guardanapos, pois ela arrumava as mesas quando as Altezas iam à Confeitaria. Na minha visita a Dresden procurei a Confeitaria, mas ela foi destruída pela Segunda Guerra.
Em Dresden ela conheceu o Paul Eduard Max Meinicke. Casaram e foram morar
O motivo e a data da imigração me é desconhecida. O passaporte está datado de março de 1900. E dia 03 de maio de 1900 o Opapa já lecionava
Eles mudaram de São Bento para Hansa Humbold, e lá ele, também, deu aula, de 1907 até 1908. De lá foram a Indaial onde foi professor, Presidente da Comunidade Evangélica, Diretor de um Coro e do Clube de Caça e Tiro “Schützengilde”. Formou uma orquestra escolar e tinha outra profissão ao lado: dentista. Era conhecido como um ótimo dentista, que tinha mão leve para extrair os dentes e fazia ótimas dentaduras. A Omi ajudava
Como vocês sabem moraram depois em Timbó onde construíram uma casa, que até hoje ainda existe.
O Opapa faleceu no dia 8 de setembro de 1934 e a Omi sobreviveu a ele por longos anos e faleceu no dia 1º de abril de 1960
Eles tiveram 5 filhos:
Primeiro filho Hermann, casado com Marie, nascida Hunold, que tiveram também 5 filhos: Max, Heinz, Wanda, Cecilie e Lucie.
Segundo filho: Max, casado com Sofie, nascida Reinhold, teve três filhos: Horst, Elvira e Mário.
Terceiro filho Américo: casado com Lieselotte, nascida Kubsch, teve três filhos: Paula, Elisabeth e Américo.
Agora filha Lucie, casada com Adolf Blaese, com dois filhos: Dagobert e Isolde.
Filha Elvira casada com Richard Paul teve três filhos: Richard, Max e Henry. Elvira faleceu muito jovem.
Os filhos, genros e noras de Opapa e Omi já são todos falecidos.
Enfim, como eram o Opapa e a Omi? Muitos de vocês ainda se lembram, não é? Paul Eduard Max Meinicke foi alto, de porte elegante, correto, muito pontual, 100% no trabalho, tocava vários instrumentos (violino, piano, órgão, flauta, pistão, corneta, contra-baixo, violoncelo e tambor), a música estava nas veias dele. Fazia também poesias. Com a sua voz sonora, cantava muito bem. Era bondoso (talvez até demais!) e muitos se aproveitavam disso, e ainda hoje há dinheiro a receber que ele emprestou, ou pelas dentaduras que fez. Gostava de trabalhar em artes manuais. Ele detestava quando a Omi fazia faxina em casa, aí xingava e explodia, mas 5 minutos depois já estava bom. Assim, a Omi levantava de noite quando todos dormiam e limpava a casa. Que boa esposa ela foi!
Omi (Auguste Pauline) foi pequena, bonita, humilde, simpática, trabalhadeira e aonde ela ia fazia logo amizade. Gostava de contar histórias e todos nós quando crianças adoramos isto. Omi gostava de cozinhar, fazer pães e bolos. Uma delícia o pão-de-ló biscuit que ela fazia com 5 dúzias de ovos. Opapa fez um batedor grande para ela bater tanta clara
Opapa e Omi eram educados e cultos. Nossos corações estão cheios de gradidão para com eles. Esta reunião de família é a prova de que nunca os esqueceremos. Vamos nos alegrar hoje e procurar conversar com os parentes aqui presentes. Os netos e bisnetos da irmã Elise do Opapa, as Famílias Hans e Rainer Spöhrer de Waltershausen-Thüringen enviam abraços. Aliás a bisneta Mirjam já esteve aqui de visita no Brasil. Por motivos particulares eles não puderam vir.
Chegou a hora de agradecer ao Casal Horst e Iris Meinicke, de Pomerode, que com grande entusiasmo, interesse pela crônica da Família Meinicke, desempenho, carinho e dedicação, fizeram tudo. O Horst até tirou férias, veio várias vezes a Itajaí para falar comigo e até as filhas Rose Marie, Rose Anne e Cristine entraram na roda, tudo para organizar esta festa. Devemos, pois a eles, por estarmos hoje aqui reunidos. Obrigada! Danke!.
Agradecemos, também, ao Nelson Schlup, de Porto Alegre, que batalhou junto com o Horst trocando idéias, datas pela internet, para lá e cá, que quase a internet pegou fogo. Nelson, obrigada! Danke!
Pedimos desculpas por qualquer falha que houve e por favor, se alguém souber algo mais sobre o nosso Opapa (Paul Eduard Max Meinicke) e Omi (Auguste Pauline), que conte para nós. A palavra está livre. E que tal uma outra reunião em 2 anos? Quem quer organizar a próxima reunião?
Finalizando, peço que todos fiquem de pé. Nós vamos todos rezar um Pai Nosso pelas almas de nosso Opapa e Omi Meinicke, pais, tios, tias e demais parentes, pedindo a Deus, que eles descansem em paz.
“Pai nosso que estás no céu, santificado seja o teu nome, venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje. Perdoai as nossas dívidas, assim como nós, também, perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair
Assinado: Isolde Blaese Drews
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